terça-feira, 1 de outubro de 2013

deixar voar o amor ou a arte da liberdade

Sempre fui da opinião que devemos ajudar os outros sem esperar nada em troca. Ajudar apenas porque é nosso dever para com o nosso planeta, para com os outros seres vivos. É um dever porque somos racionais. Sabemos, temos consciência, quando alguém precisa de nós e, simplesmente, decidimos ignorar.

Pessoalmente, poder fazer algo, por mais ínfimo que seja, traz-me alguma paz de espirito. Quanto maior for o ato de ajuda em que posso participar maior paz de espirito me traz. Quando alimento um gato esfomeado os olhos enchem-se-me de lágrimas (sei que isto é muito piegas e se alguém estiver perto de mim olho para o lado para que não se aperceba); se conseguir arranjar um lar a esse mesmo animal o meu coração fica cheio de alegria e parece-me que tudo na vida é bom. Por outro lado, se nada puder fazer fico a remoer, a achar que devia ter encontrado uma solução, a acreditar que negligenciei o meu dever para com uma vida.

Acredito mesmo, e ponho em execução, a já batida frase de “olhar o bem sem olhar a quem”. Seja alguém mais ou menos favorecido financeiramente ou socialmente ou intelectualmente…. seja criança, jovem, adulto ou idoso. Ou seja um animal, como já referi.

O que custa um abraço a quem até já tem tudo mas precisa de um momento de carinho porque teve um dia difícil? Isto já para não falar de quem nunca teve carinho de todo. Estes são geralmente pessoas ostensivas que apesar de até terem sentimentos não os sabem demonstrar refugiando-se num casulo de arrogância.

Que custa ajudar uma senhora de idade com as compras do supermercado? Custa-nos 1 minuto? Parar para escutar uma amiga que precisa de desabafar custa-nos o quê? O conforto de lhe darmos a mão? O sorriso de ter quem a oiça?

E dar uma sandes ou um bolo a uma criança esfomeada o que nos custa isso, a nós que vamos jantar fora e nunca sentimos a verdadeira fome na vida? Custa-nos pouco mais que 1 euro e ainda somos brindados com um sorriso!

Estar lá para quando alguém precisa é bom para todos. Faz-nos bem e faz bem ao próximo alimentado ambos emocionalmente. Não devemos esperar que esse gesto venha a ser retribuído porque o fazer bem, como já disse é um dever, e o prazer imediato que dai tiramos já é paga que chega.

Mas que dizer de atos maiores. De atos que nos podem prejudicar? Deixar que uma irmã decida o seu próprio futuro quando a escolha certa nos parece tão óbvia (e afinal poderá não ser) devemos decidir por ela ou acompanhar o seu sofrimento e aopiá-la quando nos permitir? Como abdicar de uma parte do nosso ordenado (que cada vez nos faz mais falta) para que os nossos pais possam ter uma qualidade de vida melhor? Como, para quem como eu trabalha com crianças, evitar ver os sorrisos nos seus rostos quando na escola são recebidas com o pequeno-almoço que nem sempre têm em casa (ainda que vindo dos bolsos da professora)?

E como, Meu Deus, como abdicar de alguém que amamos por sentirmos que estamos a prejudicar? Devemos prender a nós alguém com capacidades para voar como uma águia deixando-a contentar-se com pequenos voos de pardal? Como fazer para a deixar ir, para a deixar voar e ter o futuro que merece ainda que a amemos? É melhor calarmo-nos, não é? Fingir que está tudo bem! Ou refletir? O que é amor senão o permitir a liberdade? Ver o outro crescer, desenvolver-se e viver para fazer aquilo para que nasceu?


Para finalizar conto-vos a história de um pardalito que encontrei já crescidito mas completamente perdido na vida. Acolhi-o o melhor que soube (não como muito jeito mas esforcei-me) dei-lhe atenção, carinho, amor mas um dia vi que ele precisava de voar. Mas sabia que quando o soltasse nunca mais o veria. Mas ave alguma é feliz presa numa gaiola ainda que dourada?! Soltei-o! Mas não consegui ficar a vê-lo partir. Fechei os olhos, virei costas, escondi-me. Vê-lo partir seria demasiado doloroso.


Fiquei com um vazio tão imenso dentro de mim que parecia que nada me fazia feliz. Pensei nunca mais recuperar! Mas a vida é assim, aos poucos fui recuperando. Fui ajudando outros animais, outras crianças, um ou outro adulto. Até arranjei mais um pardalito (mas esse encontrou o caminho num instante)!

Mas as saudades que o primeiro pardalito deixou voltam com frequência, atormentam-me, tiram-me o ar dos pulmões, comprimem o meu coração e enchem os meus olhos de lágrimas. Mas acham que isso me faz infeliz (admito que por momentos sim) mas logo depois imagino-o a voar e a conquistar o mundo! Era um lindo e empenhado pardalito, um dos melhores da sua espécie.

E como agora o meu gato Fluffy reclama a minha atenção e a minha companhia na cama, termino o meu dissertamento sobre o quão importante considero a bondade e o altruísmo.

Boa noite!







1 comentário:

  1. Sabes... cá para nós... desconfio sempre de gente muito activa. Tu és assim... nitidamente para não parar para pensar e isso... isso é um erro. Só tu tens capacidade para cuidares de ti, sozinha, sem ninguém. Quando aprenderes a cagar-te pro mundo e estar feliz só, estão, todo o mundo te amará ainda mais. Quem sou eu... ninguém mesmo. Abraço-te (mesmo sabendo que tu dizes que não gostas)

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