Mio,
a engenheira de um plano quase mortal
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Faz
hoje uma semana que toda a gente me pergunta “Ai, tens o olho negro?”. De início
ainda me diverti a contar como acontecera a situação que me levara a ter um
olho negro perante as expressões de descrença de algumas pessoas que garantidamente
que já me viam como vítima de violência domestica em fase de negação.
Rapidamente,
passei da fase de achar piada a contar a história à de já não posso mais ouvir
isto nem me apetece explicar como aconteceu. Assim, quando alguém me aborda,
com os olhos muito abertos transbordantes de incredulidade, e diz: “Ai, tens
(tem) o olho negro?” limito-me a confirmar com um aceno com a cabeça e a acrescentar:
“dá mesmo mau aspeto não dá” enquanto o questionador afirma com uma expressão
muito séria que a mim só me dá vontade de rir.
É
verdade, tem o olho esquerdo roxo! A pálpebra superior e toda a zona acima da
sobrancelha fincou inchada e dorida e, com o passar dos dias, tem vindo a
adquirir diferentes tonalidades que têm passado pelo rosa escuro, roxo, roxo
rodeado de amarelo esverdeado…
Aconteceu
da seguinte forma.
Quarta-feira
da semana passada (também conhecido pelo dia da barriga inchada) ia eu a
atravessar a cozinha com a taça de cereais equilibrada na mão esquerda a
caminho do escritório para ler as notícias enquanto me deliciava com o meu pequeno-almoço
super saudável sem açúcar, mel, pepitas de chocolate, enfim… Ao passar pela
despensa (zona super perigosa onde a minha gata gosta de entonar a tigela de água
mais que uma vez ao dia) jamais penaria que naquele dia ela me tinha preparado
uma armadilha. Ah, pois tinha! É que além da água toda derramada passou a
corre, cauda espetada no ar tal qual uma antena, mesmo junto às minhas pernas.
Desequilibrei-me
e escorreguei na água. Podia ter-me simplesmente deixado cair e ver os cereais
espalharem-se pelo chão mas o instinto de sobrevivência dentro de mim levou-me
a proteger a taça de cereais como se fosse o último alimento à face da Terra.
Deste modo, caí mantendo o cotovelo esquerdo apoiado no chão com o antebraço bem
direitinho sem entornar nada. Acontece que a porta da minha despensa é daquelas
tipo fole e não estava aberta mas também não estava completamente fechada;
estava entreaberta no sítio exato! Conforme a minha cabeça tombou, o cantinho
do olho bateu na quina da porta. Com a dor fraquejei deixando o cotovelo
escorregar (devido à água entornada pela gata) para baixo do meu corpo e o meu
olho embateu completamente na porta. Doeu! Doeu bastante e os cereais ficaram
espalhados pelo chão e pela porta também.
Zangada
resolvi que ia passar o olho por água fria, comer outros cereais e logo limpava
os entornados. Erro! Os cereais entornados que já se encontravam misturados com
iogurte (light) secaram e foram verdadeiramente difíceis de os lavar dos
recantos por onde se enfiaram.
Agora,
digam-me, já que há uma semana que sou observada com olhares de “coitadinha” e
visto que realmente fui vitima de violência doméstica por parte de um animal (que
trato como uma pequena rainha) deverei recorrer à Associação de Apoio à Vítima?
POIS... DIZ QUE FOI A GATA, DIZ...
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