Sempre fui da
opinião que devemos ajudar os outros sem esperar nada em troca. Ajudar apenas
porque é nosso dever para com o nosso planeta, para com os outros seres vivos.
É um dever porque somos racionais. Sabemos, temos consciência, quando alguém
precisa de nós e, simplesmente, decidimos
ignorar.
Pessoalmente, poder
fazer algo, por mais ínfimo que seja, traz-me alguma paz de espirito. Quanto
maior for o ato de ajuda em que posso participar maior paz de espirito me traz.
Quando alimento um gato esfomeado os olhos enchem-se-me de lágrimas (sei que
isto é muito piegas e se alguém estiver perto de mim olho para o lado para que não
se aperceba); se conseguir arranjar um lar a esse mesmo animal o meu coração
fica cheio de alegria e parece-me que tudo na vida é bom. Por outro lado, se
nada puder fazer fico a remoer, a achar que devia ter encontrado uma solução, a
acreditar que negligenciei o meu dever para com uma vida.
Acredito mesmo, e
ponho em execução, a já batida frase de “olhar o bem sem olhar a quem”. Seja
alguém mais ou menos favorecido financeiramente ou socialmente ou intelectualmente….
seja criança, jovem, adulto ou idoso. Ou seja um animal, como já referi.
O que custa um
abraço a quem até já tem tudo mas precisa de um momento de carinho porque teve
um dia difícil? Isto já para não falar de quem nunca teve carinho de todo.
Estes são geralmente pessoas ostensivas que apesar de até terem sentimentos não
os sabem demonstrar refugiando-se num casulo de arrogância.
Que custa ajudar
uma senhora de idade com as compras do supermercado? Custa-nos 1 minuto? Parar
para escutar uma amiga que precisa de desabafar custa-nos o quê? O conforto de
lhe darmos a mão? O sorriso de ter quem a oiça?
E dar uma sandes ou
um bolo a uma criança esfomeada o que nos custa isso, a nós que vamos jantar
fora e nunca sentimos a verdadeira fome na vida? Custa-nos pouco mais que 1
euro e ainda somos brindados com um sorriso!
Estar lá para
quando alguém precisa é bom para todos. Faz-nos bem e faz bem ao próximo
alimentado ambos emocionalmente. Não devemos esperar que esse gesto venha a ser
retribuído porque o fazer bem, como já disse é um dever, e o prazer imediato que
dai tiramos já é paga que chega.
Mas que dizer de atos
maiores. De atos que nos podem prejudicar? Deixar que uma irmã decida o seu
próprio futuro quando a escolha certa nos parece tão óbvia (e afinal poderá não
ser) devemos decidir por ela ou acompanhar o seu sofrimento e aopiá-la quando
nos permitir? Como abdicar de uma parte do nosso ordenado (que cada vez nos faz
mais falta) para que os nossos pais possam ter uma qualidade de vida melhor?
Como, para quem como eu trabalha com crianças, evitar ver os sorrisos nos seus
rostos quando na escola são recebidas com o pequeno-almoço que nem sempre têm
em casa (ainda que vindo dos bolsos da professora)?
E como, Meu Deus,
como abdicar de alguém que amamos por sentirmos que estamos a prejudicar? Devemos
prender a nós alguém com capacidades para voar como uma águia deixando-a
contentar-se com pequenos voos de pardal? Como fazer para a deixar ir, para a
deixar voar e ter o futuro que merece ainda que a amemos? É melhor calarmo-nos,
não é? Fingir que está tudo bem! Ou refletir? O que é amor senão o permitir a
liberdade? Ver o outro crescer, desenvolver-se e viver para fazer aquilo para
que nasceu?
Para finalizar
conto-vos a história de um pardalito que encontrei já crescidito mas
completamente perdido na vida. Acolhi-o o melhor que soube (não como muito
jeito mas esforcei-me) dei-lhe atenção, carinho, amor mas um dia vi que ele
precisava de voar. Mas sabia que quando o soltasse nunca mais o veria. Mas ave
alguma é feliz presa numa gaiola ainda que dourada?! Soltei-o! Mas não consegui
ficar a vê-lo partir. Fechei os olhos, virei costas, escondi-me. Vê-lo partir
seria demasiado doloroso.
Fiquei com um vazio
tão imenso dentro de mim que parecia que nada me fazia feliz. Pensei nunca mais
recuperar! Mas a vida é assim, aos poucos fui recuperando. Fui ajudando outros
animais, outras crianças, um ou outro adulto. Até arranjei mais um pardalito (mas
esse encontrou o caminho num instante)!
Mas as saudades que
o primeiro pardalito deixou voltam com frequência, atormentam-me, tiram-me o ar
dos pulmões, comprimem o meu coração e enchem os meus olhos de lágrimas. Mas
acham que isso me faz infeliz (admito que por momentos sim) mas logo depois
imagino-o a voar e a conquistar o mundo! Era um lindo e empenhado pardalito, um
dos melhores da sua espécie.
E como agora o meu
gato Fluffy reclama a minha atenção e a minha companhia na cama, termino o meu
dissertamento sobre o quão importante considero a bondade e o altruísmo.
Boa noite!
Sabes... cá para nós... desconfio sempre de gente muito activa. Tu és assim... nitidamente para não parar para pensar e isso... isso é um erro. Só tu tens capacidade para cuidares de ti, sozinha, sem ninguém. Quando aprenderes a cagar-te pro mundo e estar feliz só, estão, todo o mundo te amará ainda mais. Quem sou eu... ninguém mesmo. Abraço-te (mesmo sabendo que tu dizes que não gostas)
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